DA VILA DA MOCHA PARA CHAPADA DO CORISCO E DA VILA DO POTI PARA TERESINA
As primeiras referências documentais que citam a Vila do Poti ( Teresina) como lugar ideal para a nova capital são datadas do início do século XVIII. À época, Oeiras era a capital do Piauí. Ao assumir o Governo da Província, José Antônio Saraiva encontrou inúmeros pedidos de mudança da capital para as margens mais ao norte do estado. Ele constatou que o tema vinha sendo discutido há mais de cem anos e decidiu investigar o assunto.
Foto: Biblioteca Nacional de Lisboa |
A navegabilidade dos rios e o contato com o litoral eram fatores essenciais na época, devido à facilidade de transportar cargas e garantir o fluxo de mercadorias. Não era o caso da capital Oeiras, conforme registrou Fernando Antônio de Noronha, então Governador das Capitanias do Piauí e Maranhão.
Arte: Capital Teresina |
Vilas promissoras
Moradores das Vilas de Parnaíba, Piracuruca e Campo Maior sugeriam a mudança para a primeira. Em 1728, João Maia da Gama, ex-governador e capitão-general do Maranhão, passou pela Vila do Poti durante viagem com destino a Oeiras, anotando em seus diários referências sobre “...as riquezas naturais do lugar, com abundância de peixes, matas repletas de madeiras de lei, com a fartura de vazantes e grandes plantios de cana”.
Vila de São João da Parnaíba. Imagem Arquivo Histórico do Exército, RJ |
Ao chegar a Oeiras, descreveu: “...os arredores da dita villa todos agrestes e sem terras e sem madeira e falta total de peixe”. Gama sugere então: “...não a extinção da dita villa mas a irecção de outra na beira do Parnaíba ahonde faz barra o Rio Poty […] observei as m.tªs terras próprias de mantimentos e quantidades de madeiras que há na beirada do Parnaíba...e pelo Poty acima”.
Nas datas de 08 e 19 de agosto de 1798, o Presidente da Província, D. João de Amorim Pereira sugere ao Ministro Ultramar que a capital fosse instalada na Vila de Parnaíba ou para uma promissora povoação “localizada na embocadura do rio Poti com o rio Parnaíba”.
Consenheiro Saraiva. Foto: Acervo Público |
A mudança
Após idas e vindas, decretos e anulações, resistências dos moradores de Oeiras e até a iminência de um levante armado contra a mudança, é sancionada por Anselmo Peretti, presidente da Província, em 23 de agosto de 1849, a transposição da capital para a Vila do Poti. A Lei nª 255 de 05 de agosto de 1850, assinada pelo sucessor Inácio Francisco da Mata, anula todas as leis votadas sobre a transferência da capital. Assembleia revoga a referida lei, e em 23 de agosto de 1849 é assinada por José Antônio de Saraiva nova lei que autorizava a mudança da capital.
O local já era vila e município, condição concedida por decreto de 06 de julho de 1832, quando foi desmembrada das freguesias de Campo Maior, Valença e São Gonçalo (atual Regeneração).
Para consolidar a mudança, Saraiva imprimiu à mudança da capital coragem e determinação. “Foi um homem à frente de seu tempo. Um jovem que tinha ideias inovadoras e as colocava em prática. Empreender a mudança da capital do Piauí foi uma delas”, revelou Cid de Castro Dias, engenheiro e escritor. Saraiva empreendeu então visita à vila para avaliar as condições que o local de fato dispunha para abrigar a nova capital, no que decidiu mudar a localização da sede da Vila.
Cid de Castro Dias. Foto: Gabriel Torres/CT |
Vila Nova do Poti
Ao chegar ao local, Saraiva constatou que a Vila do Poti estava localizada em local inconstante, com cheias que aconteciam de tempos em tempos e consequências diversas que se seguiam às essas enchentes.
Arte: Capital Teresina |
O local escolhido, situado a sete quilômetros abaixo das habitações existentes, foi batizado de Vila Nova do Poti, onde hoje é a conhecida Praça da Bandeira. Os próprios moradores empreenderam as condições para a mudança, incentivados por Saraiva, que também contratou o mestre de obras João Isidoro França para projetar o traçado da nova capital.
Porém, o local anterior, onde tudo começou, não ficou desabitado. Ao contrário, é o bairro mais antigo da capital, até hoje conhecido como Poty Velho.
Imagens: Fundac-Pi |
A mudança para o local onde hoje é a Praça da Bandeira levou para as redondezas não apenas famílias abastadas, principais responsáveis pela construção de edificações da nova sede, mas também populares, pessoas humildes e de pouca condição social.
Texto original da autoria de Mírian Gomes/ Capital Teresina.
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