Governo do Estado assina lei que reconhece primeiro território indígena no Piauí
A comunidade Serra Grande
dos índios Cariri, em Queimada Nova, distante a 552 km de Teresina, se tornou
em agosto de 2020 o primeiro povoado indígena com território demarcado
oficialmente no Piauí. De acordo com Instituto de Terras do Piauí (Interpi), o
reconhecimento é o início de uma reparação histórica dedicada à importância da
presença dos povos indígenas no estado.
A demarcação foi
oficializada depois que o governador Wellington Dias (PT) sancionou a Lei
7.389, publicada no Diário Oficial do Estado do Piauí, no dia 27 de agosto. A
nova norma reconhece formal e expressamente a existência de povos indígenas nos
limites de sua extensão territorial do Estado do Piauí. Na ocasião, o
governador reconheceu a demora na aprovação da lei.
“Essa lei é um marco para
o Piauí. Apesar de sermos o último estado do Nordeste a ingressar no circuito
de emergências étnicas indígenas que se efetivou na região, a sua promulgação
institucionaliza o que as pesquisas antropológicas já tinham registrado no
estado do Piauí e contribui com a superação da vulnerabilidade dessas
comunidades tradicionais, agravada pela ausência de políticas públicas que
respeitem a especificidade indígena”, comentou Wellington Dias
De acordo com a cacique
Francisca Pereira, representante da comunidade indígena Cariri, a iniciativa é
um passo importante para a construção de políticas públicas e para a
preservação da comunidade.
"É de grande
importância e depois que você tem uma terra demarcada, consegue conquistar
outras políticas. A gente sabe que ainda hoje em muitos estados a burocracia
para os nossos povos indígenas é muito grande. Nós fomos os primeiros
habitantes das terras e temos a maior dificuldade para ter um pedaço de terra
registrado", afirmou.
Luta
por direitos básicos
Ainda de acordo com a
cacique, a demarcação da terra é importante, mas ainda é o primeiro passo para
a conquista de direitos fundamentais que possam trazer dignidade para a
comunidade.
"Enquanto uma terra
não é demarcada, ela não possui direito à educação, nem saúde e nenhum outro.
Vamos correr atrás de direitos básicos, como água, pois moramos em uma chapada
que não têm esse recurso", continuou.
Preconceitos
"Nós não vamos
desanimar. Temos 11 anos de luta e não vamos desistir, pois esse é o nosso
sonho e quando a gente tem um sonho a gente realiza e exige o que a gente tem
direito. Conquistar o reconhecimento de um pedaço de terra não foi fácil, mas
não é por isso que vamos desistir", ressaltou.
Atualmente são 110 pessoas
que formam 34 famílias, habitando a aldeia. Conforme a cacique, esse número
poderia ser maior se os próprios membros da comunidade não sentissem medo de se
identificarem como índios.
"Acontece [o
preconceito] em um atendimento, às vezes não nos reconhecem como índios e
sabemos que infelizmente isso vai continuar. Se fosse colocar em um caderno não
iria caber o tanto de preconceito sofrido pelos povos indígenas. Isso faz com
que pessoas que têm o nosso sangue sintam medo de se identificar como
indígenas", lamentou.
Segundo Chico Lucas,
Diretor-Geral do Instituto de Terras do Piauí (Interpi), com a sanção da lei
que reconhece a existência de povos indígenas no estado, políticas públicas
especiais vão começar a ser destinadas, entre elas a regularização fundiária
para essa e outras comunidades.
"Foram várias
omissões dos órgãos, pois era uma questão cultural. As pessoas até hoje
insistem em dizer que essas pessoas não existem em território nacional e nem no
Piauí. Tem membros das próprias comunidades que negam os seus direitos e é uma
questão histórica que estamos tentando superar", afirmou.
Fonte: G1 Piauí
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