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PMs atiram durante abordagem e matam criança de 9 anos. ENTENDA

Uma criança teria sido morta durante uma batida policial realizada na noite desta segunda-feira (25/12) na avenida João XXIII, zona Leste de Teresina. A criança estava no banco de trás, ao lado do irmão, e foi baleada após o pai tentar fugir do que considerou blitz.
Os policiais militares que teriam pedido para o veículo parar teriam atirado, acreditando que os ocupantes do carro seriam suspeitos de algum crime. Um dos tiros teria acertado a criança, que foi levada com vida para o Hospital de Urgência (HUT), mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
O pai não teria parado o carro porque a mulher, que estava no banco da frente, estava levando um bebê. Como não tinha a cadeirinha tipo bebê conforto, ele arrancou para não ser parado pela blitz, no que causou o disparo dos policiais. Os pais, ainda não identificados, saíram gravemente feridos, mas sobreviveram. As outras duas crianças não foram atingidas.
Lotados no 5º Batalhão da Polícia Militar do Piauí (5º BPM), o cabo Francisco Alves e o soldado Dornel (a PM não informou nomes e nem divulgou fotos dos dois) estavam no plantão na noite desta segunda-feira (25/12), na zona Leste de Teresina.
Por volta das 23h perceberam um veículo Clio, cor vermelha, se aproximar e subir parte do acostamento na avenida João XXIII. Suspeitaram e passaram a perseguir após terem recebido a informação de que um Clio teria sido usado por dois homens em um assalto na mesma região.
A partir daí há duas versões: a dos policiais, concedido pelo cabo Francisco Alves na Corregedoria da PM-PI ainda na madrugada, dá conta de uma perseguição e uma ação imprudente de disparar sem saber quem estava dentro do carro. E a de Dayanne Félix Caetano, mãe de Emile Caetano Costa, 9 anos, concedida na delegacia na manhã desta terça-feira (26/12).
Dayanne revelou detalhes da noite na manhã desta terça em em entrevista ao programa Notícia da Manhã, da TV Cidade Verde. Ela disse que os policiais agiram de forma “bruta” com a família. Segundo ela, uma pessoa que viu toda a ação da Polícia chegou a pedir para os policiais não atirassem pois tratava-se de uma família dentro do veículo e não bandidos. “Mesmo assim eles atiraram. Disseram: ‘sua vagabunda, porque não parou logo o seu carro'”, disse Dayanne.
Os dois policiais dispararam, na contagem de Dayane, pelo menos por dez vezes. Os disparos acertaram em cheio em Emile Caetano Costa, a filha mais velha de Dayane e de seu esposo, o cantor Evandro da Silva Costa. O casal também foi atingido: ela com um tiro no braço e ele com um tiro na região do pescoço. Emile chegou a ser levada com vida para o HUT, mas não resistiu aos ferimentos. Evandro está em recuperação, ainda no hospital, com a bala alojada.
As outras duas irmãs de Emile, um bebê de 9 meses, que no momento da ação estava no colo da mãe, e uma outra criança, de 8 anos, sobreviveram. Os policiais acreditavam que o carro seria dos suspeitos de cometerem crime e por isso atiraram. Já a família preferiu fugir sendo perseguida pela viatura policial por não estarem fazendo uso da cadeirinha bebê conforto, de uso obrigatório para quem leva crianças. “A gente parou o carro, mas eles não quiseram saber de nada. Atiraram para matar. E só pararam quando a gente saiu do carro, já cheio de sangue”, afirmou Dayanne.

Dayanne, Evandro, Emile e as outras duas irmãs em foto recente (Foto: Reprodução / Facebook)
POLICIAIS PRESOS
No mesmo programa o coronel Wagner Torres, comandante de policiamento na capital, considerou que o fato é lamentável e reconheceu a imprudência e falta de preparo dos dois policiais na hora da abordagem. Ele anunciou que os dois policiais militares, o cabo Francisco Alves e o soldado Dornel , já estão presos sob o aguardo de decisão judicial. “Realmente foi uma abordagem imprudente, precipitada. Reconhecemos isso. A Polícia Militar se solidariza com família do senhor Evandro (pai de Emile). Um ato lamentável. E já tomamos as providências necessárias ao levar os dois para o presídio militar, onde aguardam por decisão da Justiça. Como o caso ocorreu com os policiais em serviço, eles respondem internamente”, informou o coronel à repórter Gorete Santos.

“MINHA FILHA MORREU COM FOME”
Desolada com a situação, Dayanne Caetano Costa, disse que a família toda só aceitou sair de casa porque a própria Emile sugeriu que fossem tomar um açaí em uma lanchonete do bairro Dirceu, zona Sudeste. “A viatura da polícia estava parada, meu esposo foi fazer a rotatória e triscou no meio-fio. Quando olhamos, a polícia já estava atrás da gente aí eu fiquei com medo, porque nós andávamos com uma bebê de colo e sem o bebê conforto. Em um certo ponto eu disse pra ele parar, ali na avenida João XXIII. Depois que ele parou a policia começou a disparar. Foram uns 10 tiros no carro. E minha filha morreu sem comer o açaí dela. Minha filha morreu com fome”.

“VAGABUNDA, PORQUE NÃO PAROU?”
No depoimento do cabo, segundo contou o coronel Wagner Torres, ele mesmo admitiu que disparou contra o carro da família. Mas no depoimento de Dayanne os dois teriam efetuado os disparos. Ela contou na entrevista que mesmo depois de atirar contra o Clio, com toda a família, o soldado Dornel desceu da viatura para tirar satisfações com o casal. Ela disse que ele a chamou de “vagabunda” e seguiu gritando com ela, mesmo com marcas de sangue após ter sido atingida no braço e estar com a sua filha bebê no colo. “Quando saímos, já estávamos todos baleados. A minha filha ainda estava lá dentro (do carro). Aí eu disse: ‘Moço, pelo amor de Deus, somos uma família’. Aí um rapaz que viu na hora gritou: ‘Aí é família policial. Aí é família!’. Mesmo assim ele [soldado] veio para o meu rumo e disse: ‘Vagabunda, porque tu não parou esse carro?’. O mesmo rapaz ainda disse assim: ‘Sim, e porque você atirou. Eu não lhe disse que era família’. Aí ele [policial] disse assim: ‘Fica na tua calado, se tu ficar falando vai sobrar tiro até pra ti'”.


Coronel Wagner Torres, da Policia Militar, revela depoimento dos PMs (Foto: Reprodução/Tv Cidade Verde)
PMs CONFUNDIRAM CARRO
Wagner Torres disse que os policiais teriam confundido o carro com o dos suspeitos e agiram de maneira imprudente. Segundo ele, as características do veículo que foram repassadas eram semelhantes ao carro utilizado por Evandro e sua família. “Por volta das 23h30, estavam fazendo a ronda na zona leste. O cabo Alves e o soldado Dornel. Foi quando foram abordados por um cidadão que há pouco tempo teria sido abordado por um elemento em um assalto e disse que ele estava em um Renault, cor vermelha. Após as informações, a guarnição fez diligências e localizaram este veículo e houve perseguição. Ali na avenida Nossa Senhora de Fátima esse veículo subiu o canteiro e na João XXIII eles pararam próximo ao clube da AABB”. Foi quando aconteceram os disparos.

Wagner Torres disse que foram cinco tiros contra o automóvel de Evandro assim que ele parou próximo ao clube da AABB. Garante que de imediato o COPOM foi acionado. “Assim que pararam, segundo depoimento do cabo F. Alves, o soldado Dornel desceu da viatura e disparou cinco tiros na direção do veículo. Quando cessou os tiros, o senhor Evandro saiu do veículo e foi quando a polícia constatou que era uma família, com uma senhora lá dentro, uma criança de oito meses e duas crianças no banco traseiro, uma de 8 e outra de 9 anos. A Emile, de 9 anos, que infelizmente foi atingida na altura do tórax, veio a óbito. Imediatamente foi comunicado ao COPOM e o superior encaminhou os policias para a corregedoria da Policia Militar. Foram autuados em flagrante e já estão a disposição da justiça”.
O coronel lembrou ainda que já foi nomeado através de portaria, o nome do presidente do inquérito e que a responsabilidade de apuração ficará delegada a Policia Militar, seguindo a nova legislação. “O Comandante Geral já nomeou através de portaria que o presidente do inquérito passa a ser o capitão Marcos. A nova legislação estabelece que como o policial estava em serviço, então a apuração é feita por nós da PM. O inquérito será feito, e terá 20 dias para concluir”. Dentro destes 20 dias o cabo Francisco Alves e o soldado Dornel esperarão no presídio militar o que a Justiça vai decidir. A Corregedoria também apura. O presídio militar é o mesmo onde está o policial Allisson Wattison, acusado de matar a própria namorada há sangue frio há cerca de um mês. Uma coincidência é que os três policiais eram lotados no 5º BPM.
Informações do Portal Oito Meia

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